quinta-feira, 2 de agosto de 2012


Acerca do código do trabalho, lembrei-me de uma história:

Há muitos anos, quando esse traidor do Mário Soares nos levou à intervenção do FMI, criei um empresa que chegou a ter 100 funcionários. Essa empresa foi criada do nada, sem contar com empréstimos nem com apoios Estatais. Foi começada apenas com as parcas e escassas possibilidades que eu tinha, juntamente com o meu sócio à época. Anos mais tarde, depois de muito esforço e trabalho, correndo os riscos próprios de quem quer fazer alguma coisa, a empresa funcionava em velocidade de cruzeiro, completamente organizada e com objectivos bem definidos, relativamente ao caminho que pretendia seguir quanto ao seu futuro. Nessa época, um antigo vizinho e amigo de infância, vem a minha casa para interceder por uma pessoa das suas amizades, procurando que eu ajudasse a resolver a difícil e aflitiva situação que essa pessoa amiga vivia, criada pelo desemprego, fazendo o favor de a empregar na minha empresa. Imediatamente me dispus a ajudar, uma vez que sempre gostei de ajudar quem quer trabalhar e, sem mais questões, do tipo religião, raça ou política, pedi que a pessoa se deslocasse aos meus escritórios para entrevista. A entrevista foi feita por mim, e apenas me preocupei em saber, em que é que a dita pessoa podia ajudar na empresa, para saber em que departamento ou secção a podia inserir, e quais as expectativas relativamente ao vencimento, para saber se a podia contratar, assim como, quais as suas necessidades mais emergentes, para saber em que é que a empresa a podia ajudar. Acordados todos os itens necessários e contratada a dita pessoa, a mesma pôs-se, no dia seguinte, a trabalhar inserida numa secção, onde a chefe era uma prima da minha mãe, que tinha ido para a empresa logo nos primeiros meses de existência da mesma. Uns dias depois, uma pessoa da minha confiança, o marido dessa prima, que também estava comigo quase desde o início da empresa, vem ao meu escritório e faz-me a seguinte pergunta: "Oh Armindo, tu sabes quem é que meteste cá dentro"? Admirado por tal pergunta procuro saber a razão da mesma, ao que me respondeu: "Parece-me que terás que estar atento à pessoa que admitiste há poucos dias". Assim fiz, passei a estar atento e acabei por verificar que, a tal pessoa que eu tinha pretendido ajudar colocando-a dentro da minha empresa, e tentando prestar-lhe toda a ajuda urgente, como dinheiro adiantado e compra de passe social, apesar de, na altura, não estar propriamente a precisar urgentemente de mais funcionários, passava o tempo a instigar o restante pessoal a fazer greve, para protestar contra tudo e mais alguma coisa, a começar pelo vencimento que ela própria tinha acordado comigo e que estava acima, embora pouco, do determinado pela lei. Imediatamente dei ordem à secção da contabilidade para fazerem as contas e emitirem o cheque assim como ao departamento de pessoal para fazerem a carta de despedimento e, sem mais conversas, inclusive, sem falar com o advogado da firma, mandei a pessoa embora. Por acaso ainda não tinham passado os fatídicos 15 dias de experiência, o que era notoriamente muito pouco, em que se podia despedir sem mais problemas, mas se eu não tivesse sido avisado a tempo e horas, ou não tivesse prestado a devida atenção ao aviso feito, o tempo passaria e depois já seria uma carga de trabalhos para a despedir, inclusivamente no que se refere a indemnizações e até talvez a ter que ir responder ao tribunal do trabalho. Quer dizer, na minha casa não posso ter apenas quem eu quero e, para não a ter, ainda iria ter que lhe dar dinheiro, ganho com o meu esforço e o de todos os outros que lá trabalhavam. Isso é que era bom. Claro que sei que há patrões/empresários que não merecem qualquer tipo de consideração, que são exploradores e oportunistas aproveitando o problema da falta de emprego para tirarem vantagem dos seus funcionários, mas convenhamos, também há muita gente que se diz trabalhadora, que diz que quer trabalhar, e o que quer é um vencimento ao final do mês e a empresa, o patrão/empresário e até os próprios colegas que se lixem. Contrabalançar os interesses destas duas posições, o de quem quer trabalhar, ou diz que quer, e o do patrão/empresário, ou que se diz ser, é que é um verdadeiro problema de difícil resolução e que, quanto a mim, por muitas reuniões e acordos conseguidos, não vão evitar os conflitos laborais do dia a dia de uma empresa e/ou de um trabalhador. Uma das formas mais fáceis para resolver essas situações é, precisamente, a existência de uma maior oferta do emprego e, para isso, o patronato tem que ter um pouco de liberdade e de tempo para poder decidir quem quer ter dentro de sua "casa", senão, com medo, prefere não arriscar a admitir uma determinada pessoa, que até poderia vir a ser um bom elemento e que, também ela, poderia resolver o seu problema financeiro/profissional começando a trabalhar e a ganhar um ordenado. Para terminar esta história, apenas quero referir que, este episódio, me custou uma zanga imediata no mesmo dia à noite, dentro de minha casa, com o meu amigo, que me foi pedir explicações por a ter despedido e, durante anos, deixá-mo-nos de falar, sendo que, a amizade que existia, nunca mais foi a mesma. 
Armindo Cardoso