sábado, 10 de novembro de 2012




Em modo de reflexão, acabei por escrever este texto. 




Ainda acerca das palavras proferidas pela Senhora Jonet.

Uma das coisas que parece ter feito mais furor, foi o facto de ela ter dito que em Portugal não havia miséria. Esquece-mo-nos, antes de criticar, é de perguntar à senhora, comparativamente a quê é que ela afirmava que não havia miséria em Portugal. Embora suponha que ela sabe que até existe localizada nalgumas famílias e até em algumas zona
s restritas do país. Digo isto porque, de facto, se ela se referia comparativamente, por exemplo, ao que se passa em certos países da África sub-sahariana, então, de facto, em Portugal não há miséria, embora haja pobreza. Enquanto houverem instituições como o Banco alimentar, e não faltar a comida à grande maioria do povo, a miséria será comparativa ao poder económico de cada um de nós em tempos anteriores, e será sempre relativa a essa comparação. Para mim, ou para qualquer um de nós, por exemplo, poderei considerar-me na miséria se, diferentemente que antes, hoje não possa comprar um carro novo e tenha que andar com um carro com muitos anos, se em vez de poder comer carne todos os dias apenas o possa fazer uma ou duas vezes por semana, se tiver que aceitar a ajuda da família para poder suprir a qualquer das minhas necessidades ou dos meus filhos, entre outras coisas do género. Isso poderá ser considerado miséria por quem antes poderá ter tido uma vida mais abastada. Mas miséria de facto, e suponho que era nessa perspectiva que a senhora Jonet se expressou, é aquela em que quando se quer comer, nem isso se possa fazer, porque simplesmente não há, nem ninguém a tem e até se morre à fome, onde se quer um copo de água e se morre infectado pela poluição da própria água, ou simplesmente se morre na tentativa para a conseguir. Eu assisti a esse tipo de miséria quando estive a viver em Angola, no meio da guerra civil, após o 25 de Abril. E mais digo, apesar de ter muito dinheiro na época, cheguei a passar fome muitas vezes, dentro da própria cidade de Luanda, porque nem o dinheiro servia para comprar comida porque ela não existia mesmo, e a que ainda ia aparecendo, de vez em quando, era tão escassa que só com um pouco de sorte se chegava a tempo de se conseguir comer para matar a fome. Mas até nessa altura, eu era um privilegiado, porque com o meu dinheiro conseguia sempre melhores facilidades que outros, portanto, a minha miséria nem era tão miséria assim, comparativamente a outros, aliás, havia quem achasse que eu era um menino rico cheio de sorte. Até cheguei a poder almoçar lagosta com cerveja, a partir de determinada altura, embora, depois o jantar, já pudesse ser coisa realmente mais difícil e perigosa. Por isso, quanto a miséria, depende dos padrões comparativos donde se queira começar a falar. Não gostei muito do que ela disse, mas não é caso para tamanho problema, havendo por exemplo, outros problemas bem maiores como a greve dos estivadores que prejudicam e empobrece ainda mais o nosso País, mas que parece não importar ninguém ao ponto de se resolver essa situação. E afinal porquê? Porque é mais fácil atacar e criticar uma mulher como a senhora Jonet que até tem anos de bom trabalho? Parece-me mesquinhez a mais ou o lugar dela já está na mira de alguém.

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